domingo, dezembro 30, 2012

FELIZ ANO NOVO!

Em 2005, estava morando em São Paulo...Escrevi, então, uma das últimas colunas para o Jornal Correio de Araxá, - sete anos de cartas semanais para o leitor caríssimo... Esta carta, que publico agora, reencontrei e reli. Alguns dias, depois a Renê me enviou um e-mail se recordando dela! Ora, que delícia! Será o pensamento varando o tempo e o espaço reunindo o coração da gente, sabe lá...

Aí vai, Renê, minha amiga! Divirta-se!

Leitor Querido,

As Festividades do Fim do Ano se diluíram no nada como os fogos de artifício nas noites comemorativas... E cá estamos nós... Diante de um 2006 que a gente sonha diferente, em tudo!, do ano que se foi... Hum...Esse início de carta está me parecendo uma síndrome de abobrinhas literárias bem ao gosto provinciano, mas...eu sou proviciana, sabia?

Gosto de um tanto de coisa que gente de cidade grande não carece... Outro dia mesmo me pegaram em pé, de frente pro nada, olhando pra cima, onde havia somente uma grande árvore... Expliquei, gentilmente, antes que me dessem por maluca:
-Estou aproveitando o Sol que está indo embora...

Felizmente, por uma obra do acaso, muito bem vinda!, o Sol deu as caras no meio da folhagem, ostensivamente...Quiçá um vento amigo que passou, abriu a folhagem, decidido a cooperar...
Tenho carência de pôr-de-sol mineiro, e tudo o que eu queria era ficar quieta no meu canto escrevendo, e olhando as montanhas em derredor... As montanhas mineiras, preferencialmente...

Somos atacados por saudades irreversíveis quando nos ausentamos da paisagem do nosso coração... Existem lugares e lugares no mundo... Tantas paragens, tantas visões e possibilidades de subsistência...
Procede? Onde vive o seu coração, amigo?


Que estranheza essa, do amor que nos faz habitar um determinado local do mundo para sempre...

Penso agora no corpo de Anna Pavlova que voltou para a Rússia quando o regime comunista terminou... Na verdade, a grande bailarina, apesar de todo o sucesso internacional, de todo o conjunto de obra, que perfazia um tour pelo planeta inteiro e a montagem de mil espetáculos, não passava de uma exilada... Passou a vida no exílio! Saiu de lá muito jovem com menos de vinte anos, e nunca mais voltou! Ou melhor, nunca mais pôde voltar...
O que significa na vida de alguém viver no exílio? Deve ser profundamente doloroso, proporcionalmente doloroso, melhor dizendo... Quanto maior o amor pela própria terra, mais intenso o sofrimento...

Mário Palmério escreveu um belo poema, uma letra de música, quando residia fora do Brasil... Ele fora nomeado pelo Presidente João Goulart para o cargo de embaixador do Brasil junto ao Governo do Paraguai, onde permaneceu até abril de 1964. Reza a tradição que ele, questionado sobre o significado da palavra Saudade, redigiu o poema que lhe envio agora:

“Si insistes en saber lo que es saudade,
Tendrás que antes de todo conocer,
Sentir lo que es querer, lo que es ternura,
Tener por bien un puro amor, vivir!
Después comprenderás lo que es saudade
Después que hayas perdido aquel amor
Saudade es soledad, melancolía,
Es lejanía, es recordar, sufrir!”

Fique então, aí em Araxá com a memória dessa saudade, que se tornou uma guarânia inesquecível...Que fico eu cá comigo com a minha...

Dizem que saudade é palavra que só existe na Língua Portuguesa; quiçá, a capacidade de sentir também o seja...

 
E o sentido do sofrimento, afinal, não será esse? O desafio de transformar a dor em encanto, a tristeza em lembrança límpida, o querer em profundo querer que não se esgota...
Nos veremos em breve... Mas como o tempo demora a passar quando a gente tem pressa de ser feliz na terra que a gente ama!!!

Um bj, e...muita saudade!

Rita De Blasiis

P.S. Consultei vários sites e registro esse porque achei esse vereador muito chic para o Brasil!: veja só... Marcelino Nunes de Oliveira - Bacharel em Direito, pós-graduando em Metodologia do Ensino Superior, vereador em Ponta Porã e estudioso da cultura fronteiriça. No http://www.conesulnews.com.br você pode encontrar um belo texto produzido por Marcelino sobre Mário Palmério.  E veja no site da Uniube, também, que estão desenvolvendo um belo projeto sobre o escritor. Pena que ele não está aqui pra ver, não é? Em off: deu pra sentir o que foi que aconteceu depois de abril de 64? Essa vida é no mínimo, digamos, muito “engraçada”... Inté!


Legenda das fotos:
Anna Pavlova, na lendária Morte do Cisne para o mundo e Mário Palmério vestido para a Eternidade Literária...Oh! Os tempos que não voltam mais...
Bom mesmo é ser feliz... agora!!!











OI RENÉ!!! Viva o Ano Novo!!! Inauguramos a Coluna com essa pequena Lamentação em Sol Maior...Bjs e...rs,
Rita
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Menina, e não é que Vc publicou também o último recado? Bah! Tudo de bom! Alguém ficou por conta! Mas a vida é assim mesmo... Agora que se passaram sete anos, nossa! Não voltei para Araxá como queria...Mudei para Uberaba em abril de 2006!Terminei o curso de Mestrado na Uniube, o mês passado! Só acredito porque foi...foi mesmo, cá estou eu, Renê, querida e...

VIVA O ANO NOVO, DE NOVO!!!

O título da carta no arquivo do Word é Saudade...
Continua sendo, que seria de nós sem a imensa saudade que os amigos, os lugares deixam no coração da gente, muitos outros chegaram e quantos ainda virão, ah, a vida! é um fazer de amigos e um semear de esperanças, vamos em frente! Graças a Deus, não é?
Bjs, inté mais!
Rita De Blasiis

Uberaba, 30 de dezembro de 2012.



SAUDADE
Letra e Música de Mário Palmério