domingo, fevereiro 07, 2010

Sem palavras...


Andei a pensar como explicaria de forma suscinta a razão pela qual escolhi esse título para o blog. Por que explicar? - seria um início bastante concreto para conduzir minha reflexão "pré-texto"... Hoje é sempre o único dia que temos. O passado não existe e o futuro ainda não aconteceu. Assim posto fica sumariamente explicado: todo dia é dia de árvore!
A angústia dos tempos modernos, ou como bem disse Baudelaire, da modernidade, é a necessidade de explicar e a impossibilidade de ser ouvido porque já não há mais tempo de nos explicarmos tanto. Para que não me pese essa terrível angústia contemporânea, justifico então: as árvores estão presentes na história da minha vida intensamente. Tanto que joguei a palavra árvore na pesquisa de arquivos do meu micro e encontrei um livro, uma infinidade de produções...E de imagens também...Uma delas, coloco aqui. Tem um poder de síntese incrível! Conseguiria substituir este texto com absoluta perfeição.Que feliz e raro momento esse: descobrir que podemos guardar o sentimento de amor de uma grande árvore e estendê-lo a todas as árvores do mundo é um presente divino. Ao pai fotógrafo, um muito obrigada, que esteja ele em paz onde estiver. E vamos, pois, às àrvores!
Rita De Blasiis

Texto escrito em Barão Geraldo, na sede do Lume(1) e publicado na Coluna Cor respondência do Jornal Correio de Araxá em fevereiro de 2004.

Caro Leitor,

Melhor dizendo, olá! Estou a ponto de morrer de saudade Araxá! Sempre que me ausento de Minas sou acometida por uma terrível nostalgia de montanhas. Definitivamente não sei sobreviver sem o amanhecer que acontece na esquina esquerda de minha rua, muito menos sem o por-do-sol que se desenrola exatamente na esquina direita. Pouca gente mora em uma rua que começa no meio do nada urbano e termina na curva de uma estrada que atravessa o mesmo mato. Penso que o mais trágico dos poemas que Drummond escreveu, aquele que me aterroriza fundamentalmente é "E agora, José, quer ir pra Minas? Minas não há mais"... E se assim não houvesse Minas mais? Quando retornei para Araxá, retornei para minha casa, que já não existia, mas, entendi depois, que meu teto é feito de estrelas e as minhas paredes, de colinas.
Você já foi à Serra da Canastra? Não?! Então, vá!- diria Caymmi, prontamente. E a propósito, me lembrei de que meu terror fundamental perante o poema de Drummond se prende ao fato de que o suprimento de poesia que se oculta sob o solo mineiro, é indispensável em minha vida.
Onde está o seu suprimento de poesia, leitor amigo? Olá! Pergunto eu aqui de Barão Geraldo...onde, ooonde, ooondeee? O eco é um sopro inverso do espírito, pensamos ouvir o outro quando conversamos com, ponto com, www, noves fora, Minas! Te peguei, hein? Hoje, estou em paralelas tangenciais, chuvas torrenciais, chove riso em minha cabeça, apesar da ausência dos costumeiros horizontes. E você o que chove na sua cabeça?
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...entresussurrante aconselhamento: o que chove na sua cabeça, depende de onde você coloca ela. Tenho uma amiga que chegou em uma cidade mineira, num dia qualquer, de um ano qualquer. Tomou um banho e saiu para caminhar, caminhou bastante e se assentou em um banco de praça, se assentou e olhou para cima, olhou para cima e viu um ipê branco, todinho coberto de flor. Então, como se fosse ao toque do seu olhar, as flores do ipê caíram todas de uma só vez, sobre a sua presença..............................................................................................................................................
Minha amiga queria plantar um ipê branco no quintal de sua casa para viver esse um só instante novamente. Mas, essa é a grande e maravilhosa dor verdadeiramente incompreensível da vida: a felicidade nos visita, no mais das vezes, é preciso encontrá-la recolhida em um canto qualquer de nossa própria casa.
Assim é que estou aqui, em Barão Geraldo, pintando aquarelas, onde faço o sol amanhecer e entardecer, o papel em branco pede cor e eu confesso a ele tudo o que sinto. É preciso reter a paz e a alegria no traço por onde passam a vida, o grito da crianças, o gato, o vulto, o outro lado. Gosto, principalmente, do outro lado onde as sombras do devir se preparam para entrar em cena. E eu vou chegando, que é um jeito avesso de mineiramente dizer: estou indo. Inté mais!

Rita De Blasiis

(1)Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Unicamp - Distrito de Barão Geraldo